Frutose e doenças cardiometabólicas

O que é frutose e como ela atua no organismo?

Frutose, também conhecida como Levulose, é chamada popularmente de açúcar das frutas. Quimicamente falando é um monossacarídeo, um tipo simples de açúcar, altamente solúvel em água. A frutose é a molécula que compõe a já também conhecida sacarose (formada por uma molécula de frutose e uma molécula de glicose), popularmente chamada de açúcar de mesa. No organismo, a frutose é metabolizada no fígado e quando está presente em grandes quantidades aumenta a produção do fígado de ácidos graxos, aumentando, portanto, a produção e de triglicerídeos, posteriormente liberados na corrente sanguínea e levando ao aumento de gordura no fígado (esteatose hepática). Adicionalmente, esse excesso de frutose no fígado gera também aumento a produção de proteínas inflamatórias. Devido a essa facilidade em aumentar triglicerídeos e de gerar inflamação no organismo o excesso de frutose na alimentação leva ao aumento da chance de acometimento das doenças cardiometabólicas.

Como a ingestão de frutose pode impactar na saúde?

Estudos vem mostrando que o aumento do consumo de alimentos ricos em frutose tem se relacionado com o aparecimento da Síndrome Metabólica, uma síndrome na qual o indivíduo pode apresentar aumento da pressão arterial, aumento da gordura abdominal, aumento de triglicerídeos, diminuição do HDL (colesterol bom) e intolerância à glicose (que pode levar a Diabetes Mellitus). Aumentando, inclusive, a chance de óbito por doença cardiovascular.

Onde a frutose está presente?

É importante conhecermos as diferentes fontes de frutose. Como já dito anteriormente, a frutose é conhecida como o açúcar das frutas, o que não significa que o consumo de frutas não deve ser recomendado, uma vez que é importante pensarmos no alimento como um todo. As frutas in natura são ricas fontes de fibras que ajudam a regular a liberação de açúcares na corrente sanguínea, bem como, são importantes fontes de vitaminas e minerais e compostos antiinflamatórios e antioxidantes, importantes para ajudar na prevenção das doenças cardiovasculares e do câncer, por exemplo. Porém, a frutose, por ser altamente solúvel em água, de baixo custo para indústria e com alta capacidade adoçante é adicionada com facilidade em grandes quantidades em determinados alimentos com o objetivo de deixá-los mais saborosos, principalmente sucos, água de coco, bebidas industrializadas no geral e alguns alimentos sólidos também. Ou seja, em uma pequena quantidade de um alimento a pessoa pode estar ingerindo uma alta quantidade de frutose. É importante alertar que ainda atualmente tem alguns adoçantes vendidos a base de frutose e o consumo destes produtos também devem ser evitados.

Existe uma recomendação diária para a ingestão de frutose?

Atualmente, ainda não temos um posicionamento de diretrizes nacionais ou internacionais quanto a uma quantidade máxima segura para o organismo a ser ingerida deste composto. O que temos é uma recomendação para redução do consumo diário de açúcar simples. Mas é consenso entre os estudiosos do assunto que alimentos com adição de frutose (ou seja, que a frutose não apareça naturalmente na sua composição) devem ser evitados, evitando assim o acometimento por doença cardiometabólica.

Qual dica você daria para que a população não faça a ingestão de quantidades de frutose capazes de levar ao aparecimento de doenças?

A principal dica é que os consumidores sempre leiam os rótulos dos alimentos. Geralmente a frutose é adicionada aos alimentos na forma de xarope de milho rico em frutose e esses alimentos devem ser evitados na rotina. Porém, a principal dica para evitar o aparecimento das doenças cardiometabólicas provenientes do excesso do consumo da frutose é ter uma alimentação saudável como rotina, rica em fibras e alimentos in natura e com o mínimo de consumo possível de alimentos processados e ultraprocessados (como biscoitos e sucos industrializados, por exemplo). Adicionalmente, a prática de atividade física em conjunto com a alimentação saudável consegue evitar os danos causados pelo excesso de consumo de frutose.

Fale um pouco sobre o seu projeto de pesquisa.

O meu projeto de pesquisa induz alterações no metabolismo do animal (ratos) através do excesso da ingestão de frutose e estuda o impacto dessa alimentação em alguns parâmetros dos animais, bem como, verifica se o treinamento aeróbio (realizado em esteira pelos animais) conseguiria evitar esses danos no organismo do animal. O que podemos observar até o presente momento é que, para o nosso espanto, apenas duas semanas com uma alimentação rica em frutose, foi capaz de deixar os animais com um quadro de resistência à insulina, com maior quantidade de gordura corporal e com aumento de triglicerídeos circulantes na corrente sanguínea, mas felizmente, oito semanas de treinamento moderado (50-70% da capacidade máxima) aeróbio em esteira foi capaz de reverter todas essas alterações. Adicionalmente observamos que dez semanas fazendo a ingestão da dieta rica em frutose foi capaz de levar a danos nos vasos sanguíneos dos animais, alterando inclusive a quantidade de algumas enzimas benéficas para o organismo no vaso, o que eleva a chance da incidência de uma doença cardiovascular a longo prazo. Porém o exercício aeróbio por oito semanas também foi capaz de evitar o acometimento do vaso sanguíneo nesse modelo experimental.

Dra. Renata Frauches Medeiros – Laboratório de Ciências do Exercício (UFF).

Clique aqui e confira artigos relacionados ao tema!

Publicado: julho de 2019.

Laboratório de Fisiologia Endócrina e Metabologia

Copyright 2024 - STI - Todos os direitos reservados

Skip to content