Quais são as causas e tipos de desnutrição?
A desnutrição é uma condição clínica derivada da deficiência ou do excesso, relativo ou absoluto, de um ou mais nutrientes essenciais. Pode ser relacionada ao desmame precoce, fatores socioeconômicos e culturais, além de apresentar caráter primário ou secundário, dependendo da causa que a promoveu. Então, como causa primária temos questões diretamente relacionadas ao alimento, como a pessoa comer pouco ou “mal” (alimentação quantitativamente ou qualitativamente insuficiente em calorias e nutrientes). As causas secundárias não são relacionadas diretamente ao alimento e podem abranger a presença de verminoses, câncer, anorexia, alergia ou intolerância alimentares, digestão e absorção deficiente de nutrientes. Em adição, a ingestão de alimentos pode não ser mais suficiente porque as necessidades energéticas aumentaram.
O que são doenças cardiovasculares?
As doenças cardiovasculares abrangem doenças que afetam o sistema circulatório, incluindo vasos sanguíneos e coração. Atualmente representam quase metade das doenças crônicas não-transmissíveis, constituindo a principal causa global de morte – 17,3 milhões óbitos/ano – um número que deverá crescer para mais de 23,6 milhões até 2030.
A desnutrição é um fator de risco para doenças cardiovasculares?
De acordo com o estudo de Framingham, resistência à insulina, dislipidemia e obesidade são condições multifatoriais, que decorrem de fatores genéticos e ambientais, associadas ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A literatura correlaciona estes quadros inclusive com a ingestão de dietas ricas em carboidratos e gorduras, ou seja, à desnutrição. Logo, a desnutrição pode ser considerada fator de risco para doenças cardiovasculares.
Como podemos tratar e/ou prevenir ambas?
A avaliação do estado nutricional é de grande utilidade e importância para o estabelecimento de estratégias de prevenção de doenças cardiovasculares, uma vez que os marcadores de risco relacionados à nutrição, como os antropométricos, dietéticos e bioquímicos, podem ser modificados com a adoção de estilo de vida saudável, abrangendo dieta equilibrada e a prática de exercícios físicos. Do ponto de vista da alimentação saudável, sugere-se que as recomendações devem basear-se em alimentos mais do que em nutrientes. Assim, a Organização Mundial de Saúde sugere o estabelecimento de metas realísticas de consumo de alimentos específicos, sendo estes alimentos identificados em função dos nutrientes que se pretendam abranger. De acordo com o estudo de Sichieri e colaboradores publicado no ano 2000, para a população brasileira uma dieta equilibrada abrangeria o consumo de alimentos variados, em 4 refeições/dia incluindo o consumo diário de arroz e feijão acompanhados de legumes e vegetais folhosos, bem como o consumo de leite e produtos lácteos com baixo teor de gordura; o uso de óleos, azeite, alho, salsinha e cebolinha; 4 a 5 porções de frutas, na forma natural, ao invés de biscoitos, bolos e salgadinhos; a redução do consumo de sal e açúcar, evitando enlatados, embutidos e refrigerantes. No escopo das ações do governo brasileiro para a promoção da saúde e da segurança alimentar e nutricional, o Ministério da Saúde publica desde 2006 o Guia Alimentar para a População Brasileira – Promovendo a Alimentação Saudável, com diretrizes alimentares oficiais para a nossa população. Embora o foco do material seja a promoção da saúde e a prevenção de enfermidades, suas recomendações podem ser úteis a todos que padeçam de doenças específicas. Neste caso, é imprescindível que nutricionistas adaptem as recomendações às condições específicas de cada pessoa, apoiando profissionais de saúde na organização da atenção nutricional.
Comente sobre o seu projeto de pesquisa.
Nosso grupo de pesquisa desenvolve vários projetos na área da plasticidade do desenvolvimento que estudam a relação entre diferentes modelos animas de má nutrição durante a lactação e a saúde cardiovascular. A programação metabólica é definida na literatura como o fenômeno biológico que estabelece uma relação entre diferentes estímulos durante os períodos críticos do desenvolvimento, como a gestação e a lactação, e o estado funcional no futuro, como na idade adulta. Dados epidemiológicos sugerem que as condições nutricionais da mãe ou seus descendentes durante esse período podem influenciar a massa corporal da prole através da programação metabólica. Os efeitos crônicos da má nutrição durante a lactação no sistema cardiovascular não estão claramente elucidados. Modelos animais permitem um paralelo mecanístico com populações humanas o que põe em perspectiva a prevenção e o desenvolvimento de terapêuticas para proteção contra doenças que podem ser programadas pelo estado nutricional ou de saúde da mãe ou do bebê. Deste modo, uma vez que o coração de mamíferos não se encontra completamente desenvolvido ao nascer, investigamos alterações funcionais, bioquímicas e moleculares do sistema cardiovascular da prole em idade jovem, adulta e idosa decorrentes de diferentes modelos de má nutrição durante a lactação, abrangendo dietas de restrição energética ou rica em frutose para a mãe, desmame precoce, sobrepeso e subnutrição dos filhotes. Buscamos então verificar o desenvolvimento de doenças cardiovasculares nos respectivos filhotes acompanhando não só o possível estabelecimento da patologia como a sua progressão para futuramente avaliarmos novas abordagens farmacológicas e não farmacológicas para controle dos quadros clínicos caracterizados.
Dra. Christianne Bretas – Laboratório de Farmacologia Experimental (UFF).
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Publicado: julho de 2019.