Durante as últimas décadas a população mundial está modificando o seu modo de se alimentar, a ingestão dos nossos amados legumes, verduras, frutas, arroz, feijões, farinhas e carnes frescas, conhecidos no meio da nutrição como alimentos in natura e minimamente processados perdeu espaço nos pratos para os alimentos ultraprocessados que são produzidos artificialmente pelas industrias a partir da adição de açúcares, gorduras, sais e químicos como realçadores de sabor e corantes. Somado a isto temos também uma mudança em nosso comportamento físico, estamos mais sedentários. E esse combo de inatividade física e má alimentação vem contribuindo para o aumento alarmante de doenças não transmissíveis (DNT) como obesidade, diabetes tipo 2, disfunções cardiovasculares como aterosclerose coronariana, acidente vascular cerebral e hipertensão, e alguns tipos de câncer. Essas DNTs são a principal causa de mortes em nosso mundo e continuam em larga expansão.
Para tentar reverter esses efeitos danosos do “estilo de vida moderno” muitos pesquisadores vêm estudando intervenções dietéticas que atuariam combatendo ou regredindo essas DNTs. Em nosso laboratório estudamos os efeitos do jejum intermitente e da restrição calórica (RC), o meu projeto especificamente trata desta segunda opção.
A RC ou restrição alimentar, como também é conhecida, já vem sendo sugerida como uma boa intervenção desde a década de 30, é caracterizada pela diminuição de 20 a 50% na ingestão de calorias de uma alimentação livre sem causar desnutrição nos indivíduos. Essa restrição funciona muito bem em modelos experimentais, além de melhorar a saúde e o funcionamento de muitos sistemas fisiológicos, em algumas espécies de animais, insetos e invertebrados, ela até proporcionou a extensão de seu tempo de vida. Mas nós humanos ocidentais, infelizmente, temos uma grande dificuldade em manter dietas, principalmente sendo altamente restritivas e de longa duração, mesmo que seja muito benéfica. Já imaginou passar o resto da vida sem poder “meter o pé na jaca”? Eu não, obrigada! E por isso nós pesquisadores começamos a pensar em alternativas para isto. Não seria maravilhoso poder comer à vontade e ingerir um alimento, fruta ou especiaria que nos trouxesse os mesmos efeitos positivos da RC? Aposto que sim! E então surgiu uma nova linha de pesquisa, investigar possíveis miméticos (imitadores) da restrição calórica (MRC).
Em nosso laboratório, uma de nossas linhas de pesquisa é a investigação de como alimentos funcionais, principalmente a canela, atuam no metabolismo energético e no sistema endócrino. Sim! É a mesma canela que você usa para colocar na banana e na canjica!
Em meu projeto de doutorado estamos avaliando se a canela em pó pode atuar imitando ou melhorando os benefícios proporcionados pela dieta de restrição calórica, mas sem a necessidade de diminuir a ingestão alimentar. Em outras palavras, ela pode ser um MRC? E por que escolhemos essa especiaria? Bom, a canela é utilizada a milênios garantindo sua segurança para o consumo, possui fácil obtenção, é barata e porque pesquisas dos mais diversos campos da saúde mostraram que ela tem ações contra bactérias, fungos e vírus, é antioxidante, anti-inflamatória, e diminui a pressão arterial, os níveis de colesterol e de glicose no sangue.
Tentei de todas as formas não fazer um textão clichê, mas a frase que todos conhecemos e não sabemos quem disse, é verdadeira. Realmente nós somos o que comemos, e nosso corpo e saúde refletem isto. Não devemos comer só para matar a fome, temos que nos alimentar para nutrir nosso corpo e para isso, é preciso buscar sempre os alimentos mais saudáveis, que realmente existem na natureza e os que passaram por menos alterações nas fábricas. O preço gasto hoje com uma boa nutrição previne seus gastos com medicamentos no futuro. Comam bem e principalmente, comam canela!
Este estudo está sendo realizado pela aluna Lia Ballard, graduada em biomedicina, mestre em Ciências e Biotecnologia e atualmente doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências e Biotecnologia e membro do Laboratório de Fisiologia Endócrina e Metabologia da UFF.